Afortunados são
aqueles que nunca provaram do amargo sabor do fracasso. Não há como
explicar, de fato, a sensação desgostosa de provar do fracasso, você
tenta engoli-lo, mas acaba por ruminando-o dias a fio, acostumando-se
com o gosto acre em seu interior. Não o esquece, sua mente está sempre
de volta à aquele momento onde tudo saiu dos trilhos, onde suas
esperanças se mostraram ironicamente desnecessárias. E por mais que
queira esquecer, algo em você parece querer confrontá-lo, fazendo-o
relembrar dia após dia e lhe dizendo para não tentar de novo, pois as
chances do insucesso continuam tão grandes quanto sempre foram.
Você se irrita, cerra os punhos e repete para si próprio que sim, irá conseguir, mas no fundo não acredita nas palavras vazias, jogadas ao vento de forma desconexa que jamais farão sentido algum. O golpe sofrido pela experiência falha parece ter deixado um ferimento aberto, que se recusa a cicatrizar, e de fato o fez. Então, apenas lhe resta seguir em frente, mutilado do jeito que está, torcendo para que a próxima tentativa não seja tão desastrosa quanto a anterior. Com isso, você cai no erro de voltar a confiar em sim mesmo e fracassa mais uma vez, sendo preenchido até quase engasgar com o já conhecido azedume.
Desorientado,
inconformado, o perfeito retrato do fracasso. Você se olha no espelho e
enxerga o que foi um dia uma pessoa realizada. Tem uma leve impressão
que, no passado, alcançava seus objetivos, usufruía das realizações, mas
suas lembranças estão nebulosas, sem forma, agora que tudo que preenche
seus pensamentos são as imagens das recentes e desastrosas
experiências. Você não consegue esconder a angústia, o medo por nunca
mais conseguir acertar, e chora, preferindo as lágrimas salgadas ao
sabor de suas frustrações. Ao tentar reencontrar seu eixo, você parte em
busca de questões em aberto, com as respostas há muito tempo perdidas.
Para o que você vive? O que se tornou? Por que não consegue mais se
realizar?
Ao tentar reencontrar forças que pensou que já haviam se extinguido, tenta não dar atenção à insistente voz que repete que mais uma vez irá fracassar. Você se levanta, determinado a não deixar perguntas sem respostas, atitudes não concluídas. Recusa-se a aceitar que será um eterno fracassado, que nunca mais conseguirá vencer, não acredita que o que vê no espelho é de fato você. Com isto, decide seguir em frente, mesmo mutilado, mesmo despedaçado. Não quer dar motivos para que continuem vendo-o como o fracassado, não quer desistir dos sonhos, dos desejos. Tentará mais uma vez, e, se não conseguir, tentará de novo. Se tudo falhar, o que de pior poderá acontecer? Será atingido, arruinado mais uma vez. Nada que já não tenha acontecido, nada que já não esteja acostumado. Afinal, deste sabor você já provou.